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Hamas liberta três reféns israelenses em troca de 183 prisioneiros palestinos
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O movimento islamista Hamas libertou, neste sábado (8), três reféns israelenses mantidos em cativeiro por 16 meses em Gaza em troca de 183 prisioneiros palestinos, a quinta troca possível graças ao cessar-fogo com Israel em vigor desde 19 de janeiro.
Os três homens — Or Levy, 34 anos; Eli Sharabi, 52 anos, e o israelense-alemão Ohad Ben Ami, de 56 — foram exibidos em um pódio em uma cerimônia organizada pelo Hamas.
Imagens dos três homens extremamente magros sendo interrogados com um microfone em um palco por milicianos armados do Hamas com os rostos cobertos causaram indignação em Israel.
O Clube dos Prisioneiros Palestinos, uma ONG, denunciou a "brutalidade" e os maus-tratos nas prisões israelenses, enquanto o Hamas criticou o que chamou de "política de assassinatos lentos" nas prisões.
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), que recebeu os reféns e os levou para Israel, pediu que quaisquer futuras libertações sejam "dignas" e realizadas "em privado".
O Fórum das Famílias de Reféns israelenses denunciou "imagens chocantes" durante a libertação dos três, que, apesar do cansaço evidente, foram forçados a falar no pódio por um militante encapuzado do Hamas.
O presidente israelense, Isaac Herzog, denunciou "um espetáculo cínico e cruel" que ilustra "um crime contra a humanidade" e o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, juntou-se às críticas, dizendo que as imagens deste sábado "não ficarão sem respostas".
- "Continuam vivos?" -
Em troca dos três homens, Israel libertou 183 prisioneiros palestinos, que foram recebidos em Jerusalém Oriental, Cisjordânia e Gaza.
Sete dos prisioneiros palestinos libertados neste sábado tiveram que ser internados no hospital, incluindo Jamal al-Tawil, um líder político do Hamas na Cisjordânia. O movimento islamista palestino fez críticas à "política de assassinato lento" aplicada, em sua opinião, nas prisões israelenses.
O Clube dos Prisioneiros Palestinos disse que todos os prisioneiros libertados precisam de algum tipo de assistência médica devido à "brutalidade" que sofreram na prisão.
A libertação dos prisioneiros que retornaram a Gaza foi marcada pela incerteza sobre o destino de suas famílias, que sofreram com a dura ofensiva lançada por Israel após o ataque de 7 de outubro.
"Como está minha família?", um deles perguntou à multidão da janela do ônibus que o levava para Khan Yunis. "Eles ainda estão vivos?", questionou, angustiado.
- Hamas diz que não quer mais guerra -
A troca deste sábado estava incerta até sexta-feira, após declarações surpreendentes do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que, ao receber Netanyahu na Casa Branca na terça-feira, propôs que os Estados Unidos assumissem o controle de Gaza e que sua população fosse deslocada para países vizinhos.
Uma ideia categoricamente rejeitada pelo Hamas e condenada pela comunidade internacional.
O membro do comitê político do Hamas, Basem Naim, criticou o "atraso e a falta de comprometimento" de Israel na implementação da primeira fase da trégua, o que, segundo ele, colocou o acordo "em perigo", disse em entrevista à AFP.
No entanto, afirmou que o movimento islamista palestino continua pronto para retomar as negociações sobre a implementação da segunda fase do acordo, que deveriam começar na segunda-feira, e disse que o Hamas não deseja "retomar a guerra".
A primeira fase do acordo de seis semanas prevê a entrega de um total de 33 reféns a Israel, incluindo pelo menos oito mortos, em troca de 1.900 palestinos.
Desde 19 de janeiro, 21 reféns e 765 prisioneiros palestinos foram libertados, assim como um egípcio.
Porém, para muitos reféns, o retorno significa enfrentar a morte de seus parentes em 7 de outubro de 2023, no ataque sem precedentes lançado pelo Hamas, que deixou 1.210 mortos do lado israelense, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais.
A esposa de Or Levy, Einav, foi morta no ataque do Hamas ao festival de música Nova, realizado naquele dia a poucos quilômetros da Faixa de Gaza.
Das 251 pessoas sequestradas nesse dia, 73 permanecem cativas em Gaza, das quais pelo menos 34 morreram, de acordo com o Exército.
A ofensiva israelense matou pelo menos 48.181 pessoas em Gaza, a maioria civis, segundo dados do Ministério da Saúde do Hamas, considerados confiáveis pela ONU.
R.Keller--BlnAP