
Zelensky propõe trégua em céu e mar e diz querer 'consertar as coisas' com Trump

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, propôs uma trégua com a Rússia nesta terça-feira (4) que detenha os ataques aéreos e marítimos e realizar conversas sobre uma "paz duradoura" sob a "liderança" do presidente americano Donald Trump, com quem quer "consertar as coisas".
Além disso, afirmou estar disposto a firmar um acordo sobre a exploração dos recursos naturais ucranianos por parte dos Estados Unidos.
"A Ucrânia está absolutamente determinada a continuar sua cooperação com os Estados Unidos [...] um parceiro importante", disse horas antes, em coletiva de imprensa, o primeiro-ministro ucraniano Denys Shmygal, um dia depois de Trump cumprir sua ameaça e ordenar uma "pausa" na ajuda militar americana à Ucrânia.
"Minha equipe e eu estamos dispostos a trabalhar sob a liderança do presidente Trump para conseguir uma paz duradoura", disse Zelensky na rede social X, assegurando que queria "consertar as coisas" com a contraparte americana após a discussão acalorada de sexta-feira.
"As primeiras etapas poderiam ser a libertação de prisioneiros e uma trégua no céu, [com] proibição de mísseis, drones de longo alcance, bombas contra infraestruturas" civis, sobretudo energéticas, e "uma trégua no mar imediatamente, se a Rússia fizer o mesmo", indicou o presidente ucraniano.
Zelensky assegurou que a Ucrânia é "grata" aos Estados Unidos por sua ajuda militar, no que parecia ser uma resposta às críticas de Trump, que o havia acusado de ingratidão em relação a Washington por seus esforços para pôr fim à guerra, durante o bate-boca de sexta na Casa Branca.
- Mobilização europeia -
Por sua vez, um assessor da presidência ucraniana, Mykhailo Podoliak, disse hoje que estava "discutindo opções com nossos parceiros europeus", no mesmo dia em que a União Europeia lançou um ambicioso plano de rearmamento da Europa que poderia mobilizar até 800 bilhões de euros (4,9 trilhões de reais) para a defesa.
"A Europa enfrenta um perigo claro e imediato de uma magnitude que nenhum de nós jamais conheceu em nossa vida adulta", disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em uma carta aos líderes dos 27 países do bloco.
O projeto será analisado durante uma cúpula europeia nesta quinta, que estará focada na Ucrânia e na segurança da Europa.
O primeiro-ministro francês, François Bayrou, disse no Parlamento que a França vai fazer de tudo para "reunir todos os meios possíveis", com outros países europeus, para compensar a interrupção da ajuda militar americana à Ucrânia.
Seu colega polonês, Donald Tusk, considerou que a situação é "muito grave" e que os europeus devem "estar à altura", ao mesmo tempo em que lamentou que os Estados Unidos tenham tomado essa decisão, "de grande importância política" sem ter "consultado" nem "informado" seus aliados.
Em Londres, o chefe do governo britânico, Keir Starmer, manifestou sua vontade de diálogo com o "aliado mais antigo e mais poderoso" do Reino Unido, os Estados Unidos, e também com seus "parceiros europeus" e com Kiev.
"Ninguém quer mais a paz do que a Ucrânia", assinalou pouco depois uma porta-voz do gabinete de Starmer.
- 'Facada nas costas' -
Os Estados Unidos têm sido o maior doador financeiro e militar da Ucrânia desde o início da invasão russa em 24 de fevereiro de 2022.
Desde então, Washington, sob o comando do presidente Joe Biden, forneceu inúmeros equipamentos potentes e modernos, incluindo sistemas antiaéreos Patriot, para permitir que a Ucrânia se proteja do bombardeio russo.
De acordo com o Departamento de Estado, Washington forneceu 65,9 bilhões de dólares (385 bilhões de reais) em ajuda militar à Ucrânia desde a invasão.
Mas nas poucas semanas desde a chegada de Trump, a posição de Washington em relação à guerra se inverteu completamente e até começou uma aproximação com a Rússia.
"Estamos fazendo uma pausa e revisando nossa ajuda para termos a garantia de que vai contribuir para uma solução", afirmou na segunda-feira um funcionário americano que pediu anonimato.
"O presidente deixou claro que está focado na paz. Precisamos que nossos parceiros também se comprometam com esse objetivo", frisou.
Em uma avenida de Kiev, Sofia, uma ucraniana de 33 anos, mostrou-se indignada com a decisão dos Estados Unidos, que classificou de "facada nas costas".
"A Rússia não conseguiu tomar Kiev, mas tomou Washington rapidamente", opinou, por sua vez, Bojena Antoniak, redatora em uma editora ucraniana.
Depois do bate-boca com Zelensky na Casa Branca na sexta-feira, Donald Trump intensificou na segunda suas ameaças contra a contraparte ucraniana, que disse que via paz ainda "muito distante".
"Esse cara não vai querer a paz enquanto tiver o apoio dos Estados Unidos", afirmou o presidente americano, que advertiu que não vai tolerar "mais por muito tempo" as posições da contraparte ucraniana.
H.O.Scholz--BlnAP