
Autoridade Palestina se dispõe a assumir papel em Gaza

O presidente palestino, Mahmoud Abbas, afirmou nesta terça-feira (4) que a Autoridade Palestina está disposta a ter um papel em Gaza depois da guerra, no âmbito de um plano apresentado pelo Egito como alternativa ao de Donald Trump, que prevê que os Estados Unidos assumam o controle do território.
Os dirigentes da Liga Árabe se reuniram nesta terça no Cairo para conversar sobre a reconstrução da Faixa de Gaza, destruída após 15 meses de guerra, onde Israel prometeu eliminar o Hamas e descartou qualquer papel eventual da Autoridade Palestina.
O Egito apresentou um plano de 53 bilhões de dólares (R$ 310 bilhões) para reconstruir a Faixa no prazo de cinco anos, um período equivalente ao da ONU, segundo um projeto ao qual a AFP teve acesso.
O presidente egípcio, Abdel Fattah al Sissi, declarou que o plano garantiria que os 2,4 milhões de cidadãos de Gaza possam permanecer em suas terras, enquanto a iniciativa de Trump prevê sua expulsão para Egito e Jordânia para transformar Gaza na "Riviera do Oriente Médio".
O movimento islamista se apoderou do território em 2007, depois de expulsar a Autoridade Palestina dirigida por Abbas, que governa apenas, e com limitações, a Cisjordânia ocupada.
"O Estado da Palestina assumirá sua responsabilidade na Faixa de Gaza através de suas instituições governamentais e um comitê de trabalho foi formado com esse fim", afirmou o líder palestino perante a cúpula.
- Permanecer 'em suas terras' -
O presidente palestino, no cargo desde 2005, disse que está disposto a organizar eleições presidenciais e legislativas nos Territórios Palestinos "no próximo ano", se "houver condições apropriadas".
O líder egípcio Sissi disse nesta terça que seu plano é manter os palestinos "em suas terras" e assegurou que Trump é "capaz de conseguir a paz" na região.
O plano egípcio prevê reconstruir Gaza e criar um fundo supervisionado a nível internacional para garantir "a sustentabilidade do financiamento", bem como sua "transparência".
A primeira fase, de seis meses, vai se concentrar em recolher os escombros, retirar minas e explosivos, e criar habitações temporárias para mais de 1,5 milhão de pessoas.
Depois viriam outras duas fases de reconstrução, a primeira para criar infraestruturas básicas e habitações permanentes, e a segunda para construir um porto comercial e um aeroporto, entre outros.
No longo prazo, o plano prevê que a Autoridade Palestina, cuja sede fica na Cisjordânia ocupada, se encarregue do governo da Faixa com possível presença internacional.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, que esteve na cúpula, afirmou que a ONU "apoia firmemente" o plano árabe.
- 'Desmilitarização total' -
A cúpula da Liga Árabe no Cairo na terça-feira coincide com o impasse nas negociações entre o Hamas e Israel sobre os próximos estágios do cessar-fogo que começou em 19 de janeiro em Gaza.
A primeira fase da trégua terminou no último fim de semana e, para passar para a segunda fase, que em teoria deveria levar a um cessar-fogo permanente, o ministro israelense das Relações Exteriores, Gideon Saar, exigiu a "desmilitarização total" de Gaza, a saída do Hamas do território e a devolução dos reféns sequestrados durante o ataque de 7 de outubro de 2023 em território israelense que desencadeou a guerra.
O Hamas rejeitou imediatamente essas condições, enquanto Israel anunciou a suspensão da entrada de produtos e suprimentos no território palestino.
"As armas da resistência são uma linha-vermelha [...], uma questão não negociável", declarou nesta terça à AFP um dos chefes do grupo, Sami Abu Zuhri. "Qualquer conversa sobre a deportação dos combatentes da resistência ou de nosso povo será rechaçada" de antemão, acreacentou.
O ataque de 7 de outubro de 2023 deixou 1.218 pessoas mortas no lado israelense, a maioria delas civis, de acordo com uma contagem baseada em dados oficiais e incluindo reféns mortos ou mortos em cativeiro.
A resposta do Exército israelense causou pelo menos 48.397 mortes em Gaza, a maioria civis, de acordo com dados do Ministério da Saúde do Hamas considerados confiáveis pela ONU.
Q.Weiss--BlnAP